No documento, Kopenawa conta que uma técnica em enfermagem, lotada no pólo base Humuxi, estaria trocando as vacinas com os invasores da terra indígena. Ainda de acordo com o documento, ela também era apontada como responsável por desviar gasolina e um gerador de energia do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) para os garimpeiros em troca de ouro.
A suspeita começou em janeiro, assim que as vacinas começarem a ser aplicadas em Roraima. Segundo o ofício, autoridades em Boa Vista já foram alertadas sobre o caso e foi solicitado que as mesmas tomem providências.
“Essas informações são verdadeiras, passadas pelas lideranças desses locais. Nessas regiões é bem comum a troca de materiais por ouro, como remédios, e infelizmente, às vezes esses profissionais acabam se deixando levar”, afirmou Kopenawa.
Já na região do Uxiu, uma servidora é apontada como suspeita de desviar medicamentos que seriam para os indígenas para tratar garimpeiros à noite. Kopenawa informou ainda que o caso foi relatado por uma liderança indígena durante uma reunião com o secretário da Sesai e o coordenador do Dsei-Y.
"É comum a queixa por parte dos Yanomami de que o materiais e medicamentos destinados à saúde indígena estão sendo desviados para atendimento aos garimpeiros. Em julho de 2020, já havia sido encaminhado aos órgãos aqui endereçados o depoimento de uma Yanomami da comunidade de Kayanau queixando-se da piora no estado da saúde em sua comunidade e mencionando o desvio de medicamentos por um funcionário do DSEI-Y que atendia no polo base local", diz trecho do ofício encaminhado ao MPF e à Sesai.
MPF e Ministério da Saúde, que responde pela Sesai, não se manifestaram sobre o relato.
"É inadmissível que, em meio à insistente piora nos índices de saúde das comunidades indígenas da Terra Indígena Yanomami e em plena pandemia da Covid-19, o órgão responsável pelo atendimento da saúde indígena tenha seus recursos desviados para atendimento de não indígenas que trabalham no garimpo ilegal", crítica a associação em outro trecho do oficio.
A Terra Yanomami é a maior reserva indígena do Brasil e fica entre os estados de Roraima e Amazonas, e boa parte na fronteira com a Venezuela. Mais de 26,7 mil índios - incluindo grupos isolados - habitam a região em cerca de 360 aldeias. Dados não oficiais estimam que ao menos 20 mil garimpeiros atuam ilegalmente no território.
Os casos de coronavírus entre indígenas que habitam a localidade se agravam devido a presença de garimpeiro - no ano passado, em três, os casos avançaram 250%.
Com informações do G1
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