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Mudanças de última hora no relatório da medida provisória que vai regular o setor de portos acirraram uma batalha já em curso entre gigantes da exportação de soja.

Há alguns dias, o governo promoveu uma alteração de prazo que ameaça investimentos de R$ 1 bilhão em novos terminais portuários no Norte do país, região considerada a mais importante para a exportação de grãos nos próximos anos. O escoamento da produção pelo norte reduz custos e ajuda a descongestionar os portos do Sul e do Sudeste.

ENTENDA O CASO: O texto original da medida provisória, editado em 6 de dezembro, proibia a operação de terminais privados em portos públicos. Mas, procurado por empresários que já tinham projetos privados em curso dentro de áreas portuárias públicas, o governo concordou, numa reunião no início do ano, em abrir exceção para aqueles grupos cujos investimentos estavam em andamento.

No dia 17 de abril, após uma reunião com o governo, o relator da MP e líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM), distribuiu aos parlamentares parecer no qual autorizava a operação de empresas que tivessem protocolado até 31 de dezembro seus pedidos.Uma semana depois, no entanto, Braga apresentou um adendo a seu relatório, informando necessidade de promover reparos ao texto. Nesse adendo, o senador antecipou de 31 para 6 de dezembro o prazo para o protocolo de pedidos de operação nos portos públicos. Na justificativa do adendo, Braga não informou o conteúdo da mudança aos parlamentares. Disse que só fizera reparos ao texto.

QUEM GANHA, QUEM PERDE: A antecipação do prazo prejudica as empresas Hidrovias do Brasil e a americana ADM, que tentam legalizar terminais no Pará, mas fizeram solicitação após o novo prazo de 6 de dezembro. A Hidrovia solicitou a autorização em 21 de dezembro, apesar de trabalhar desde o ano passado para obter as licenças necessárias para formalizar o pedido ao governo. A ADM, por sua vez, comprou em julho um terminal de minério e pretendia transformá-lo em terminal de grãos. Mas o processo de legalização foi sustado após a edição da MP.

De outro lado, foram favorecidas as empresas que já operam na região: Cargill, Bunge e Amaggi têm projetos já aprovados para ampliação e se livram da concorrência. A Folha apurou que, no dia 16 de abril, representantes da Bunge e da Cargill reuniram-se na Casa Civil da Presidência com a ministra Gleisi Hoffmann e o ministro da Secretaria de Portos, Leônidas Cristino. Parlamentares relataram que representantes da Cargill trabalharam para alterar o texto para dia 6 de dezembro. Braga afirma que alterou o parecer por determinação de Gleisi.

As prejudicadas cogitam ir à Justiça contra o texto final da MP. Segundo João Birkhan, da Centrogrãos, corretora que opera para a Federação de Agricultores do Mato Grosso, o escoamento da soja pelos portos do Sul custa em torno de US$ 160 (R$ 320) por tonelada. Pelo Norte, estima-se que custaria até US$ 50 (R$ 100) a menos. "Isso é um retrocesso incrível. Não vamos resolver o problema do escoamento da soja", afirmou Birkhan.

Fonte: Editoria de Arte/Folhapress


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