Baseado em dados levantados até 2010, o Instituto Sangari divulgou nesta quarta-feira (14) o mais recente mapa da violência no Brasil. O país ultrapassou, nas últimas três décadas, a marca de um milhão de vítimas de homicídio.
E o Pará saltou do 21º lugar no ranking dos estados mais violentos para assegurar uma indesejável medalha de bronze nesse quesito. Segundo o levantamento feito pelo instituto, o ranking do Mapa da Violência 2012 é liderado por Alagoas, seguido pelo Espírito Santo, Pará, Pernambuco e Amapá.
No Pará, dois municípios chamam a atenção em relação a violência, justamente por serem os que lideraram o recente plebiscito para a divisão do Estado. Em 2010, o Pará registrou três municípios, na faixa de 200 a 500 mil habitantes, que apresentam contrastes extremos: Ananindeua e Marabá, ambas com taxas que superam os 100 homicídios para cada 100 mil habitantes, e Santarém, que em 2010 apresentou uma das menores taxas do país para municípios de grande porte: 3,1 homicídios para cada 100 mil habitantes.
O Mapa da Violência 2012, como foi intitulado o trabalho, mostra que a insegurança deixou de ser também um estigma apenas das grandes cidades. Segundo o Instituto Sangari, as cidades menores tiveram o maior índice de aumento da violência.
“Nesse caso, há uma tendência de as cidades menores incorporarem hábitos de comportamento de cidades maiores. A violência também vem junto”, diz a psicóloga Milene Veloso. Segundo ela, em muitas cidades menores há uma ausência de políticas públicas. “Elas não costumam chegar ao interior. Há muita ociosidade entre os jovens por conta disso”.
A psicóloga alerta, no entanto, que geralmente números sobre violência devem ser lidos, em alguns casos, sob a ótica do aumento da notificação. “Há a possibilidade de que em alguns desses estudos não se tenha levado em conta que as pessoas e instituições possam ter aumentado o número de registros que antes não eram notificados”, diz.
O estudo feito pelo Instituto Sangari faz um comparativo que mostra o grau de violência que atingiu o País. Segundo o levantamento, o índice anual de mortes por homicídio no país supera o número de vítimas de enfrentamentos armados no mundo. Entre 2004 e 2007, 169,5 mil pessoas morreram nos 12 maiores conflitos mundiais. No Brasil, o número de mortes por homicídio nesse mesmo período foi 192,8 mil. Em 2010, ocorreram 50 mil assassinatos no país. Segundo o relatório, foram registrados 137 homicídios por dia.
“De certa forma o Brasil tem vivido uma espécie de guerra”, diz Milene Veloso. E ela tem atingido muito mais os jovens, os negros e os pobres. E muitas vezes, esses três juntos”. O relatório do Instituto Sangari é enfático a esse respeito. “Fica difícil compreender como, em um país sem conflitos religiosos ou étnicos, de cor ou de raça, sem disputas territoriais ou de fronteiras, sem guerra civil ou enfrentamentos políticos violentos, consegue-se exterminar mais cidadãos do que na maior parte dos conflitos armados existentes no mundo”, diz o relatório.
Em relação ao Pará o cientista político Wando Miranda, 33 anos, enfatiza que o aumento na violência, mais notadamente no número de homicídios, é decorrência de uma postura histórica de ausência do estado. “O Pará tem recebido um fluxo muito grande migração, mas a violência também é resultado de falta de políticas publicas como educação, saúde, cultura”, diz Miranda.
Segundo ele, os últimos governos paraenses sempre atuaram mais no sentido de fazer a política do enfrentamento. “Aumenta o número de crimes e se colocam mais soldados, mais viaturas, isso é política de enfrentamento, não é política pública”. “Quem é da periferia não costuma ter acesso aos mecanismos sociais e acaba sendo envolvido na violência”, diz.
Marabá é a mais violenta: O Pará é o terceiro estado do Brasil em número de homicídios. São 45.9 casos por 100 mil habitantes em 2010, um aumento de quase 460% quando comparados os números de homicídios ocorridos em 2000. Considerando os registros feitos na capital e na região metropolitana, o Pará é o estado brasileiro que apresentou a segunda maior alta de homicídios por 100 mil habitantes. Pulou de 18,9 em 2000 para 80,2 em 2010. O primeiro lugar geral é de Alagoas, que teve, somente na capital e RM, crescimento de 39,3 para 100,7.
Pará, Alagoas e Espírito Santo seguem em sentido contrário ao que vem sendo registrado no país, onde o índice de homicídios caiu no ano passado, passando de 27 casos por 100 mil habitantes em 2009 para 26,2 em 2010. O Mapa da Violência 2012, elaborado pelo Instituto Sangari, foi elaborado com base em informações do Ministério da Justiça e do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Os dados são preliminares e consideram como morte violenta as provocadas no trânsito, por armas de fogo ou outros tipos de agressões.
Quando se analisa o ranking por estados, Alagoas lidera o ranking da taxa de homicídios em 2010 - foram 66,8 casos por 100 mil habitantes. Em seguida estão os estados de Espírito Santo (50,1), Pará (45,9), Pernambuco (38,8) e Amapá (38,7). Santa Catarina foi o estado que registrou o menor índice no ano passado (12,9).
Já dentre as capitais, Maceió aparece como a mais violenta: foram 109,9 homicídios/100 mil habitantes em 2010. Em seguida estão, João Pessoa (80,3), Vitória (67,1), Recife (57,9) e São Luis (56,1). Belém aparece em 8º lugar, com 54,5.
O município baiano de Simões Filho, com média de 146,4 homicídios por 100 mil habitantes nos últimos três anos, encabeça a lista quando o critério são as cidades com mais de 10 mil habitantes mais violentas. Na sequência estão Campina Grande do Sul (PR), com taxa 130, e Marabá (PA), com taxa 120,5. Marabá é a cidade com o maior índice de mortes por 100 mil habitantes do Pará. Ananindeua (108,1) é a sexta do ranking nacional e segunda no Estado.
Segundo o estudo, mais de 1 milhão de pessoas morreu vítima de homicídios no país nos últimos 30 anos. Na última década, na maioria dos estados brasileiros houve uma queda na taxa de assassinatos registrada nas capitais e regiões metropolitanas e um aumento contínuo na taxa nas cidades do interior. Enquanto que, nas capitais e regiões metropolitanas, a taxa passou de 44,1 em 2003 para 33,6 em 2010, nas cidades do interior houve um crescimento, passando a média nacional de 16,6 em 2003 para 20,1, em 2010.
Fonte: (Diário do Pará)
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