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Comunidades afirmam que não compactuam com garimpeiros e alguns indígenas Munduruku, que protestaram por 7 dias em rodovias no estado, pedindo legalização da exploração em terras protegidas por lei. Índios de 56 comunidades do povo Kayapó divulgaram manifesto contra o garimpo ilegal em terras indígenas. O motivo da carta divulgada nesta quinta (8) é esclarecer que as comunidades não compactuam com manifestações individuais de indígenas que apoiam o garimpo e mineração em terras indígenas.

A manifestação ocorre após sete dias de protestos nas rodovias BR-230 e BR-163, respectivamente a Transamazônica e a Santarém-Cuiabá, em trecho no distrito de Campo Verde, em Itaituba, sudoeste do estado. O protesto envolvia garimpeiros e alguns indígenas da etnia Munduruku pedindo a legalização de áreas protegidas por lei. As interdições geraram filas de até 20 km e encerrou após negociação com a Polícia Rodoviária Federal (PRF).

O documento assinado pelo Instituto Kabu, Associação Floresta Protegida e Instituto Raoni, é endereçado ao governo federal. Os Kayapós afirmam que o governo estimula a invasão dos territórios indígenas e que os órgãos ambientais estão fragilizados para combater as ações criminosas. Na quarta, os indígenas Munduruku que vivem na região oeste do Pará também divulgaram uma carta com conteúdo semelhando, cobrando demarcação dos territórios de fiscalização para impedir o avanço criminoso sobre terras indígenas.

Confira o manifesto dos Kayapós na íntegra:

"Nós, cerca de 6,2 mil indígenas do povo Mẽbêngôkre – Kayapó de 56 comunidades das Terras Indígenas Baú, Capoto/Jarina, Kayapó, Las Casas e Menkragnoti, associadas à Associação Floresta Protegida, ao Instituto Kabu e ao Instituto Raoni, vimos através deste manifesto esclarecer que não compactuamos com manifestações individuais de parentes Kayapó a favor do garimpo.

Mais uma vez queremos deixar bem claro que somos contra o garimpo e qualquer atividade predatória em nossos territórios!

Repudiamos a forma como o governo federal vem estimulando a invasão de nossos territórios, seja pela retórica que fortalece o crime organizado, seja pela omissão e fragilização dos órgãos responsáveis pela proteção dos territórios indígenas e pelo combate a atividades ilegais e predatórias. Apesar de a grande maioria do povo Kayapó ser contra o garimpo em nossos territórios, a crescente pressão sobre nossas comunidades fez com que algumas poucas lideranças fossem seduzidas pelo ganho financeiro rápido e fácil que o garimpo proporciona.

Não autorizamos que eles falem em nome do Povo Kayapó, especialmente porque muitas famílias de suas próprias aldeias não apoiam essa atividade. Como poderíamos ser a favor de uma atividade que gera profundos impactos ambientais e sociais aos nossos territórios e comunidades? Como poderíamos privar nossos filhos e netos de um território preservado para seguirem vivendo segundo nossos usos, costumes e tradições, como garante a Constituição Federal?

Nossos territórios nos dão quase tudo o que precisamos para nosso bem viver. É da caça e da pesca, da coleta de frutos e sementes em nossas florestas e do cultivo de nossos roçados que conseguimos a maior parte de nossos alimentos. É em nossas florestas e cerrados que nossos pajés coletam uma infinidade de produtos que utilizamos em nossa medicina tradicional na prevenção e tratamento de inúmeros problemas de saúde. Foi esse conhecimento tradicional que reduziu o impacto da pandemia da Covid-19 em nossas comunidades, ajudando a nos proteger e tratar nossos doentes.

É também de nossas florestas e cerrados que tiramos materiais para a construção de nossas casas, a produção de utensílios que usamos no dia-a-dia e a confecção de artesanatos e enfeites que usamos em nossos rituais tradicionais. É em nossas florestas e rios onde fazemos caçadas e pescarias coletivas que precedem nossos rituais; onde coletamos castanha, cumaru, açaí, entre centenas de outros alimentos e materiais; onde nossas crianças se divertem e aprendem, na prática, com seus pais e especialmente com nossas anciãs e anciões, como ser um Mẽbêngôkre.

No entanto, ao longo das cerca de sete décadas de contato, nós, indígenas do povo Mẽbêngôkre - Kayapó, passamos a consumir alguns produtos industrializados que não produzimos em nossos territórios, como vestuários, medicamentos e ferramentas que nos auxiliam no nosso dia-a-dia. Assim, hoje, todos nós precisamos de algum dinheiro para suprir nossas necessidades. Mas existem dois caminhos muito diferentes para termos acesso ao dinheiro.

Um caminho é o do dinheiro fácil e rápido, que destrói nossos territórios e recursos naturais, traz brigas, envenena nossos rios e comunidades e condena as presentes e futuras gerações a uma vida cada vez pior e mais dependente dos Kuben (não indígena). Esse é o caminho do garimpo, da pesca predatória e da madeira! O outro é o caminho do aproveitamento da floresta em pé, do jeito que a gente aprendeu de nossos antepassados e que protege nossos territórios e nosso povo.

Fonte: G1-SANTARÉM-PA 


 

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