A cidade de Santarém, no Oeste do Pará, amanheceu nesta segunda-feira de luto, com faixas preta nas lojas e carros, em protesto contra o resultado do plebiscito, que derrotou a proposta de criação dos estados do Tapajós e Carajás.
Ao mesmo tempo, os políticos da região já começam a articular ações que possam garantir mais recursos e investimentos do governo do estado na área. O deputado Lira Maia (DEM-PA), presidente da Frente Pró-Tapajós, afirmou nesta segunda-feira que deputados ligados aos grupos emancipacionistas pretendem apresentar duas propostas no estado: a transferência da capital de Belém para outra cidade paraense, localizada em área mais central do estado, e outra para transferir órgãos para as regiões oeste (Tapajós) e sudeste do estado (Carajás).
- Se o Tapajós tem a maior área de floresta preservada, não faz sentido manter a sede do Instituto de Florestas em Belém. Ele tem que estar mais perto de onde estão as florestas. E já que querem um Pará grande, que a capital seja numa área central, como Brasília - disse Lira Maia.
Segundo Lira Maia, as regiões vão exigir que o governo do Pará invista nas duas áreas um valor proporcional à população.
- Queremos isso no orçamento do estado, carimbado. Não podemos mais permitir que as pessoas sejam tratadas como de segunda categoria - afirmou, referindo-se ao fato de o governo do estado investir apenas 5% do orçamento na região, concentrando investimentos na Região Metropolitana de Belém.
Na avaliação de Edivaldo Bernardo, presidente do Comitê Pró-Tapajós em Santarém, maior cidade da região do Tapajós, a força dos votos da região - mais de 95% votaram a favor da separação - deixa claro que a proposta de criação dos estados foi derrotada pela própria legislação, uma vez que a região de Belém concentra maior número de votos.
- Na nossa região, conseguimos cerca de 98% dos votos a favor da divisão e isso mostra que não é apenas um desejo de políticos, mas da população. Mas estávamos predestinados a perder. O "não" era definitivo e, se ganhássemos o plebiscito, ainda dependeríamos de uma lei no Congresso. Fora isso, somadas as regiões de Tapajós e Carajás tem 1,680 milhão de votos, menos do que os 3,12 milhões do Pará remanescente - explica.
Segundo ele, a aliança com Carajás e a campanha unificada não prejudicou Tapajós. Nas urnas, a criação de Tapajós teve 1.203.574 votos, apenas 18.028 a mais do que a criação de Carajás (1.185.546). Dados do Tribunal Regional Eleitoral do Pará revelam que a Frente Pró-Carajás gastou na campanha R$ 946.480,60. Já o gasto da Frente Pró-Tapajós foi menos da metade: R$ 376.302,00. Apenas em janeiro serão divulgados os dados finais da quantia arrecadada nas duas campanhas.
Para deputado pró-Carajás, erro aconteceu no desenho do novo mapa. Para o deputado estadual João Salame (PPS), presidente da Frente pela Criação do Estado do Carajás, diz que o maior erro da campanha pela criação do Carajás e Tapajós foi ter desenhado mapas que abocanhavam a maior fatia do estado, deixando para oPará apenas 17% da área. Segundo ele, o mapa dos dois estados foi desenhado com base em sugestões de lideranças políticas dos municípios que, em alguns casos, não tinhamrepresentação política para conquistar os eleitores. Um dos exemplos é a cidade de Altamira, incluída no mapa do Tapajós, onde a maioria dos eleitores votou contra a criação de Tapajós.
- O erro foi a definição do mapa político, que se tornou a maior crítica dos adversários- afirmou Salame.
O deputado afirmou que o plebiscito chamou atenção do país para os problemas do Pará, onde a construção de hidrelétricas e a atividade de mineração atraem grandes levas de pessoas de outros estados, aumentando a população, sem a contrapartida de aumento dos investimentos em serviços públicos.
Salame explica que, além da desoneração das exportações pela Lei Kandir, que faz com que as mineradoras não recolham ICMS, as hidrelétricas também não deixam recursos suficientes no estado, pois o ICMS é cobrado no consumo.
- Esta equação é explosiva e não fecha. Nada menos do que 90% da energia gerada no Pará é exportada para o Centro-Sul do país. Os estados que usam é que ficam com o imposto - diz ele. Para o deputado, o governo federal terá de ajudar o Pará a encontrar caminhos para a solução destes problemas.
- Não acredito em Papai Noel, em mudança na Lei Kandir, que é boa para o país porque ajudou o Brasil a enfrentar as crises externas. Ela não será mudada por causa das questões do Pará ou Minas Gerais. Mas temos de buscar saídas para aumentar os investimentos. Se o estado fosse rico, não precisaria dividir.
Salame afirmou que o estado tem ainda um terceiro problema, que é o da política ambiental, que impede a extração de madeira e, sem a presença do Estado para fiscalizar, a atividade funciona ilegalmente. Ou seja, além de desmatar, ainda não paga imposto. Segundo ele, não houve erro na campanha de marketing, conduzida pelo publicitário Duda Mendonça, que tem terras na região que ficaria com o estado do Carajás.
- Erros podem ter existido, mas em qualquer campanha quem ganha sempre fez perfeito quem perde sempre encontra erro.
Fonte: oglobo
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